O dia em que me encontrei com Pablo

O cantor e compositor Pablo Milanés é um ícone da música cubana. Na infância, lembro do disco de vinil que eu escutava, cuja capa era dedicada a Yolanda, um clássico fruto da parceria de Pablo com Chico Buarque.

Neste dia em que perdemos este gigante da música latinoamericana lembrei do dia em que tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente em Cuba.

Assistir um show de Pablo Milanés era um sonho antigo e a oportunidade de realizá-lo chegou em 2017. Quando fiquei sabendo que o Festival de Cinema de Gibara contaria com um show de Pablo na abertura não pensei duas vezes: precisava ir para Cuba e Gibara.

Gibara é um pequeno povoado de pescadores, na costa norte da ilha, na província oriental de Holguín. São 770 quilômetros de Havana a Gibara.

O percurso até Gibara foi uma aventura cinematográfica, digna de um relato específico que deixarei para os próximos dias.

Cheguei a Holguín à noite, 16h depois de sair de Havana, pois com todos os ônibus lotados e o preço proibitivo para mim de um taxi até outra província,  naquela época,  resolvi fazer a viagem de caminhão!

Na noite seguinte, já em Gibara, sem ter onde dormir fui batendo nas casas particulares, até que consegui hospedagem e conheci uma dupla de músicos cubanos que se apresentariam no festival, o Raciell Garcia e o Alejandro López.

Cuba nunca é uma história linear, planejada. Como ensinava Paulo Freire, “o caminho se faz caminhando”, e em Cuba essa máxima é muito verdadeira, pois, por mais que você tenha um plano, ele sempre terá surpresas.

Raciell e Alejandro foram muito queridos. Conheciam tudo sobre o festival e Gibara. Ficamos amigos e através deles fui apresentado à cineasta Eirene Houston, uma escocesa que participava dos festivais de cinema em Cuba e já havia sido jurada em outras edições do festival de Gibara.

Participamos da abertura, um desfile popular na pequena vila colonial de Gibara. Os participantes do festival desfilavam junto com a população, tinha banda no desfile e era uma grande festa popular.

Puxando o desfile estavam o cineasta Jorge Perugorría e Mariela Castro, organizadores do evento, e o ator Benício del Toro, amigo de Cuba e entusiasta do festival.

O festival nasceu em 2003, a partir de uma iniciativa do cineasta cubano Humberto Solás com o objetivo de gerar um circuito cinematográfico alternativo. Naquele ano, era a 14a edição.

Na noite seguinte, aconteceria o tão aguardado show de Pablo Milanés. Finalmente pude curtir a apresentação, ouvir as músicas de Pablo e cantar junto com o povo de Gibara que compareceu em peso, lotando a praça.

“Se alguma vez me sinto derrotado
Eu abro mão do sol de cada dia
Rezando o credo que tu me ensinaste
Olho teu rosto e digo à ventania
Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda”

Existe uma riqueza cultural em Cuba sem igual e um dos pilares, sem dúvidas, reside na ligação entre artistas e o público. Pablo é um patrimônio da cultura cubana e seu povo ama as suas músicas.

Pablo transformou-se em um patrimônio da nossa música latinoamericana e foi o encanto das suas canções de amor que embalaram esta minha aventura por Cuba ❤

Para encerrar com chave de ouro, Eirene, convidada dos organizadores do festival, conseguiu que eu, Raciell e Alejandro participássemos de um jantar em homenagem ao Pablo.

Gratidão eterna a Eirene!

Tive a oportunidade de comentar o quanto o povo brasileiro amava suas músicas e que estava muito feliz em conhecê-lo pessoalmente. Foi uma noite inesquecível!

Pablo, muito obrigado pelas suas canções, pela joia que você foi para cultura cubana. Por todos os sonhos que nos inspirou com as suas canções de amor.

¡Descanse em paz querido Pablo! 🇨🇺